Nos últimos meses, o mercado de tecnologia ocidental tem prestado muita atenção em uma empresa ainda jovem, que vem ganhando corpo na China e investindo pesado para, em breve, tentar alçar voos mais ambiciosos. Trata-se da Xiaomi, companhia que tem sido apelidada de “Apple oriental”, embora as semelhanças não sejam tantas assim.
O nome soa estranho para os ouvidos do ocidente, não só pelo fato de a empresa não ser popular por estes lados, mas pela própria pronúncia, que é difícil acertar de primeira. A dica da forma correta de se dizer o nome “Xiaomi” vem de Hugo Barra, brasileiro que é ex-vice-presidente da divisão do Android, no Google, e recentemente passou a ocupar um alto cargo na empresa chinesa. Pronuncia-se “Xau-mi”, explica ele ao AllThingsD.
A intenção da companhia ao trazer um grande executivo ocidental é tornar a Xiaomi uma empresa global e não apenas chinesa. E potencial para isso existe, já que, ao contrário do estereótipo das empresas chinesas, a companhia se preocupa não em copiar, mas oferecer novidades para seus clientes.
Um dos grandes diferenciais da empresa, criada em 2010, é oferecer smartphones com especificações capazes de competir com os melhores aparelhos das grandes marcas, mas com um preço mais amigável. Sem nenhum contrato com operadoras ou subsídio, o valor de um produto de topo de linha chega a custar cerca de US$ 300, metade de um Galaxy S4 ou um iPhone. Todos os produtos são vendidos pelo site oficial da companhia.
A estratégia é simples. Eles quase não lucram com a venda dos celulares da companhia. Para fazer valer o investimento com uma margem de lucro tão apertada, eles mantêm os produtos no catálogo por mais tempo. Além disso, também vende acessórios optativos para maximização dos lucros. A companhia não possui um Moto X, completamente personalizável (embora o recurso não exista no Brasil), mas é possível comprar diferentes tampas traseiras e baterias extra ao comprar o celular.
“O negócio de acessórios só faz sentido com grandes volumes de um modelo em particular”, afirma Lin Bin, fundador da companhia e personagem extremamente curioso, conhecido pela sua inspiração em Steve Jobs.
Contudo, vender o hardware apenas não é o foco da empresa. Apesar da alcunha de “Apple oriental”, a companhia se assemelha mais ao Google neste ponto, já que outra fonte de renda são os serviços oferecidos aos seus consumidores. “O futuro da internet móvel são os serviços”, explica Bin. Este posicionamento é facilmente compreendido pelo fato de que ele trabalhou no Google e também explica um pouco os motivos de Hugo Barra ter se sentido à vontade para migrar para a companhia chinesa.
Alguns destes diferenciais estão na própria versão do Android utilizado pela companhia em seus dispositivos. Apelidado de “MIUI”, o sistema operacional é altamente modificado em relação à versão pura encontrada na linha Nexus, por exemplo. Ele chega a ser comparada até mesmo com o iOS, já que ao contrário da maioria dos Androids do mercado, não há uma “gaveta” de aplicativos. Todos eles ficam na tela principal, exatamente como nos iPhones, e o usuário pode organizá-los em pastas, na disposição em que preferir. Além disso, há vários recursos próprios para os quais o usuário do MIUI é direcionado, como troca de mensagens em nuvem, segurança do dispositivo e recursos de backup.
“Nós não somos apenas uma empresa chinesa barata, fazendo um telefone barato. Seremos uma companhia que fará parte do Fortune 500”, afirma ao New York Times o CEO Lei Jun, fazendo referência à lista anual da Fortune, que organiza as companhias com as maiores arrecadações do mundo.
Nestes dois meses desde que Hugo Barra largou o Google para assumir a vaga na Xiaomi, ele ficou impressionado com seu novo ambiente de trabalho, que destacou o “espírito empreendedor” da companhia e seus funcionários. “A Xiaomi é fascinante e parecida com o Google, da forma como eu imaginava”, explica ele no Google+. Na visão dele, a companhia é focada nos usuários, conhecidos como “Mi Fans”. Embora a expansão ainda seja um objetivo, primeiro a empresa deve desbancar Apple e Samsung em território chinês antes de pensar em atingir o Ocidente.
De qualquer forma, é fácil perceber que a estratégia, embora talvez não seja a mais lucrativa, tem agradado bastante os consumidores chineses. O Mi3, novo lançamento da empresa, chegou a vender 100 mil smartphones em 90 segundos, uma marca impressionante. Isso só foi possível graças ao fato de não haver lojas físicas da Xiaomi; todas as compras foram feitas pela internet. São duas versões do aparelho: uma com o processador Snapdragon 800, da Qualcomm, enquanto o outro usa o chip Tegra 4, da Nvidia.
Fonte: New York Times.